
O conceito desenvolvido por Jonathan Canady – o cérebro do Deathpile – tem como objeto de estudo um dos assassinos em série mais notáveis de seu tempo: o assassino de Green River. O título do álbum é uma referência às iniciais do serial killer e ao local de desova dos cadáveres, de modo que não há no mundo um título mais adequado.Gary Ridgway foi responsável pelo assassinato de 48 mulheres, a maior parte prostitutas. O sentimento de aversão e hostilidade contra as mulheres é o tema central do disco, em uma narrativa em primeira pessoa. Grande parte do conteúdo choca por sua brutalidade, causando um enorme desconforto e – admito – um certo sentimento de culpa. Casady leva tão a fundo o seu estudo que, por vezes, parece se tratar de uma confissão do próprio autor do crime, fazendo do ouvinte o seu cúmplice.
G.R. é o último registro do Deathpile e, para muitos, o melhor
de sua carreira. Não é tão rítmico quanto os seus antecessores, a maior parte
do disco consiste em camadas grosseiras
de feedback – cortesia do amigo David E.Williams – que criam a estrutura
necessária para dar suporte ao vocal característico de John Casady que – ao
lado de John Balistreri (Slogun) - ajudou a definir o formato tão peculiar dos
estadunidenses de fazer noise e power electronics. As influências dos primeiros
trabalhos do Whitehouse e do terrorismo psicológico do Sutcliffe Jugend são
absorvidas e adequadas à realidade dos Estados Unidos: saem de cena a frieza e o
cinismo europeus para dar lugar ao linguajar fuleiro das ruas de Nova Iorque,
levando o ouvinte a um submundo de facadas, trairagem e tretas de gangue.
Desse disco, saíram alguns dos grandes clássicos do Noise
USA: “The First Whore”, a climática “Known Victims” e “You Will Never Know”.
Não é exagero classificar o G.R. como um dos melhores discos de noise já feitos
dentro e fora dos Estados Unidos, disputando pau a pau com obras do quilate de
Great White Death (Whitehouse), Symphony for a Genocide (MB), History of AIDS
(Prurient), entre outras pepitas. Trata-se de um álbum fundamental para
entender a maneira tão peculiar de fazer noise adotada pelos estadunidenses e
um excelente porto de partida para quem quer conhecer um pouco mais a fundo o
power electronics.
Thiago Miazzo
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