filme-gatilho, cuja grande sequência, aquela que concentra sua força e fraqueza, sua aparente singularidade e sua paciente intransigência: a quebra da quarta parede não se resume a um "papo reto", a um artifício retórico teatralesco e lacrador, mas o momento único em que câmera, ator e espaço-tempo convergem para acirrar as contradições e explicitar os antagonismos que estruturam o filme: o jogo com o tempo do impasse, do olho-no-olho, o tempo em que se impõe a velha pergunta revolucionária, o que fazer? alguém poderá dizer que a grande maioria dos filmes de Spike Lee operam por dentro dessa lógica, mas em todos eles a contradição explode e estilhaça as dores morais sobre toda a comunidade. em Destacamento Blood a explosão se volta para dentro: é a explosão do ressentimento, da incapacidade e do beco sem saída. longe de se meter a porta-voz dos "tempos interessantes", longe de engrossar o coro dos descontentes, Lee parece explodir de euforia. seu filme samba no mausoléum dos Estados Unidos da América, suas cores saturadas nunca tiveram tanta razão de ser.
No calor da visão, assinei com Tiago Campante um texto para a Cinética:
http://revistacinetica.com.br/nova/da-5-bloods-bernardo-tiago-spikelee/
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