quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Melhores do funk em 2014, por Raoni Mouchoque e Leandro Baré


























Como no ano passado, convidamos os DJs e produtores do Ritmo de Favela, "Eu Amo Baile Funk" e Rádio Legalize para o recenseamento relativo a uma das vertentes mais criativas e instigantes da música brasileira contemporânea. Com a palavra, Raoni Mouchoque e Leandro Baré. (B.O.)

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2014 foi um ano produtivo pro funk, muitas revelações, batalhas de MPC, produções excepcionais, hits que invadiram todas as casas noturnas e fizeram todo mundo pôr o dedo pro alto e rebolar até o chão, não só no Rio de Janeiro, mas em São Paulo e Vitória também. Fora do Brasil o ritmo da favela também reverberou nos monitores dos produtores gringos, Rasteirinha, Tamborzão e até o Volt Mix dialogaram bonito com o grave do Trap, Dubstep, Moombahton e até com a malemolência da Cumbia. 

Fazer esta lista foi uma tarefa prazerosa e difícil, mas conseguimos extrair uma lista de 20 funks cariocas que marcaram este ano pelo os bailes e pistas que passamos. Com certeza seu revéillon vai ser mais animado se colocar estas faixas pra tocar.


1. Irreverentes, criativos e bem humorados a dupla de MCS Gorila & Preto mostrou a todo mundo que "Os Novinho Tão Sensacional" logo no início de 2014:



2. O Bonde das Maravilhas e os fisioterapeutas sempre dizem: pra melhorar a dor nas costas ao acordar você "Alonga e Rebola". Alongar é preciso:




3. E sentou a moreninha, sentou a pretinha e sentou a loirinha também ao som do MC Duduzinho, "Tô Pro Crime": 




4. Para agradar a Maysa e As Abusadas tem que ser completo, na hora de "pa" tem que dar "Cinco Pentadas Direto":



5. MC Luan quase passou sufoco pra satisfazer a mina na cama, deu sorte que foi o "Papai que Ensinou".



6. MC Metade na onda do poliamor-socialista-libertário pegou as malandras com a fiel do lado e ainda deu o papo: "Amigo Que É Amigo" come as novinhas juntos.



7. Pra amante abusada que ameaça a fiel, MC Katia fala logo: "Ah, Tá":



8 - MC Koruja com uma melodia e um violãozinho romântico cantou seu drama com uma mina comprometida em "Passei a Língua":




9 - Com um vídeo muito engraçado que atingiu milhares de visualizações no youtube e Facebook, MC Langa fez o baile todinho dançar o "Passinho do Ombrinho":



10. MC Karyne da Provi disse que na Cidade Alta as novinhas ficam loucas e "Vão Descendo Com o Dedo na Boca": 



11. MC Farrá alertou que depois que experimentou, fez efeito tipo droga, agora ela tá viciada em fazer "Roça-Roça":



12. MC Stér foi pro baile e alucinou a noite de 2014 "Doidona de Balinha"




13. MC Sherman pôs a mãozinha pro alto, não se importou com a faturo no mês seguinte e mostrou que o cartão não tem limite no bonde dos "Brad Pitt":




14. MC Brinquedo é novo, mas não é criança, ele "Pega a Novinha e Balança":




15. Até o MC Smith este ano tomou um belo "chá" e ficou "Apaixonado Nessa Puta":



16. O funk é muito bonito ainda mais quando entra na cadência bonita do samba, esse foi o resultado do "Aquecimento do Cavaco", produzido pelo Fabio DJ:




17. Quer se envolver se envolve com vontade, se vem então como dia o MC TH: "Vem Ferver Fervendo":



18. MC Biel narrou um fenômeno interessante durante o baile, era geral no meio da quadra fazendo a "Rodinha em Volta da FAP":



19. MC Pensador disse que de hoje não vai passar, porque "É Hoje Que TU Vai Me Dar". 




20. Com um sax muito maneiro na intro Nego Belo lembrou muito bem como tu fica bonita. Te falei não? "Sentadinha tu fica".



21. MC Pitty cantou que apesar do DJ ganhar pouco é uma "Profissão Maneira", pois toca, bebe uísque e no final, bem, no final você já sabe.




22. MC Fluup de norte a sul fez todo mundo dar "Um Oi Pro Trem".



23. No galope MC Wallace Cavalo fez uma revelação que muda a veterinária e mostrou que nem só égua entra no cio, acredita não? Então olha os "Cavalos no Cio"



24. Aonde o MC Buret tá, pára várias minas do lado. Fui perguntar para ele porque, ele mandou logo o papo: "Trabalho pro Brabo"


25. MC Rd - "Vem Cá Menina" X "Vai Sentar no Poste". Yeaaaaaahh:


26. Depois de tacar o piru na mulher dos alemão e de ficar muito louco com todo mundo, MC Maneirinho parou, sentiu e pensou: "Que Saudade da Minha Ex".


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2013 que abalou muito em 2014:

A mina do baile rebolou e fez MC Nego Bam delirar. Com sua voz marcante bradou tão forte: "Aaaaah Eu Vou Gozar" que até ecoou até no shopping:




Nandinho sarrou na xota dela e prometeu: "Vou Te Ligar Mais Tarde":




MC Vinicinho fez todo mundo sentar gostoso em troca de um "Guaravita"


Raoni MouChoque & Leandro Baré

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Música que veio da África em 2014, por Lúcio Branco

Aby Ngana Diop


































Antes de tudo, peço perdão pelo considerável espaçamento entre as minhas contribuições ao Matéria. Não fugindo à pauta das minhas resenhas publicadas no blog, vou tentar, de algum modo, compensar essa longa ausência com uma lista dos melhores lançamentos do ano no segmento da música africana. Um ponto que salta à vista nesta seleção é a presença de artistas nigerianos, dado nada surpreendente para quem é minimamente familiarizado com o universo em questão.

2014 segue a tendência recente de valorização da música produzida no Continente-Mãe desde a década de 1960. Coletâneas de raridades vintage e lançamentos de veteranos que entenderam que manter a integridade artística, para além dos padrões ditados pelo famigerado escaninho da “world music” no mercado, é a senha. (Um parêntese: talvez falte uma discussão mais a sério sobre os efeitos disfuncionais que arranjos equivocados e outros procedimentos infelizes produziram à música africana justamente no primeiro “surto” da sua maior popularidade, nos 1980; e não só nesse filão musical, me parece – seria um Mal da Década?) Resumindo: essa integridade atende à demanda de uma geração que aprendeu a se relacionar com música graças à internet, que lhe permitiu o acesso a uma produção anteriormente restrita ao circuito africano e, a posteriori, praticamente ao público europeu, em excursões eventuais.

Comecemos pelos majoritários nigerianos...

O documentário Finding Fela, até o momento apenas exibido na programação de festivais de cinema no Brasil, rendeu uma trilha sonora que reúne faixas que comumente não figuram nas coletâneas de Fela Kuti. E o mérito dos responsáveis pela seleção não é pequeno. É uma amostragem que introduz bem ao universo do músico, o que aponta para a abrangência criativa e numérica do seu repertório. Talvez o mesmo não se possa dizer com relação ao filme, cuja linha narrativa é muito calcada no musical da Broadway que acabou por dar maior projeção ao nome e à lenda do síndico da Kalakuta Republic nos últimos anos. Uma “estratégia de propaganda” que muito provavelmente não seria aprovada pelo próprio. É preciso dizer que a condição de existência da produção do documentário foi ditada pelo êxito do musical, daí a sua inevitável narrativa metalinguística.




E por falar em afrobeat e “cinebiografia”, Tony Allen, com seu Film of life, faz mais do mesmo, o que significa, nos seus termos, nunca ser o mesmo. Aquele que é tido – e não por poucos – como o maior baterista em atividade no planeta, dá provas, mais uma vez, de que o seu compromisso é com a inovação contínua nas 13 faixas do álbum. Falamos em afrobeat e já nos corrigimos: com as suas baquetas, Tony Allen ainda toca afrobeat, mas, desde que se evadiu do Africa 70, em 1978, não é mais dentro das fronteiras do gênero que concebeu com Fela, nove anos antes, que ele assina as composições dos seus trabalhos recentes – talvez apenas os seus primeiros álbuns possam ser enquadrados no afrobeat. A lista de convidados de Film of life tem uma dupla de nomes de peso: Manu Dibango e Damon Albarn. Ambos são responsáveis pelos melhores momentos de um álbum que é dançante da primeira à última faixa.



Ainda no domínio dos veteranos nigerianos, o clássico Orlando Julius lançou, este ano, Jayiede Afro. Ele faz, agora, o mesmo que Mulatu Astatke fez há alguns anos atrás: juntou-se aos ingleses Heliocentrics para lançar um álbum só de faixas inéditas. Absolutamente fiel ao estilo que o consagrou como um dos grandes da fusão do highlife com o soulfunky na Nigéria, Orlando surpreende com o fôlego que apresenta aos 71 anos. A típica percussão iorubá que faz a base para o seu canto e o seu sax em Jayiede Afro, por mais que inevitavelmente ainda se relacione com a cultura rítmica que gestou o afrobeat, não faz dele um nome na linhagem musical criada por Fela Kuti e Tony Allen. O jazz, gênero que, juntamente ao highlife e ao soulfunky formam o tripé do afrobeat, não é o elemento estruturante das composições repetitivas de Orlando Julius. (Isso é a constatação necessária da marca do seu estilo, e não uma restrição a ele – muito pelo contrário.) Boa parte de Jayiede Afro é instrumental, o que dá prova da competência dos Heliocentrics como banda de apoio de veteranos da relevância dos mencionados.




O mestre Peter King teve o seu magistral Omo Lewa, de 1976, relançado este ano. Fontes internas nos informam que o ainda vivo (embora bem doente) King é dos poucos músicos nigerianos que não celebram a memória de Fela Kuti. Peter King cultiva o ressentimento por ter sido ofuscado pelo criador do afrobeat que, após atingir o status de lenda já em vida, conseguiu colocar todos os seus concorrentes em segundo plano. A indústria e o público perderam a oportunidade de conhecer, mais a fundo, a obra de um mestre que também soube fundir soulfunky e jazz como ninguém. A ausência do viés político e a presença tímida do highlife, talvez tenham comprometido, em algum grau, o apelo da música de Peter King junto a uma faixa mais extensa de apreciadores. Uma injustiça que o relançamento tardio de Omo Lewa, esperamos, repare.




Hungry Man, do Keyboard, dueto nigeriano Keyboard formado por Broderick Majwua e Isaac Digha, pelo que se levantou em pesquisas, foi lançado em 1978. Que se diga logo: é uma obra-prima. Fazendo jus ao nome da banda, os teclados são o mote das seis composições desta raridade felizmente relançada na íntegra. E os arranjos de guitarra e metais só fazem o conjunto da obra ir além, itinerário e destino certos de toda música que é crucial. A sonoridade é muito similar à de gravações de artistas locais como Tony Shorby, C.S. Crew e Pazy & the Black Hippies, ou de um ganês como Gyedu Blay Ambolley. Repito: Hungry Man é um monumento.




Atendendo pela mesma dimensão criativa, e vinda da safra dos 1980, temos a nigeriana Aby Ngana Diop com o seu Liital, um ataque polirrítmico em grande parte orientado por djembes em ponto de tensão máxima. Caso a conheça (e muito provavelmente a conhece), David Byrne deve tê-la na galeria dos seus músicos africanos prediletos. Talvez o PIL, de John Lydon, possa ser apontado da mesma maneira, caso levarmos em conta o uso de sintetizadores, aqui. O rótulo fajuto de “world music” é nocauteado em cada nota/batida/modulação vocal de Liital. O canto de Diop e o coral que a acompanha complementam a complexidade rítmica dos djembes numa trama indiferente à noção ocidental de diálogo harmônico entre vocal e instrumentação.



E o que dizer do recém-descoberto William Onyeabor? Em 2014, este artista adotado pela crítica e por aficionados em música africana foi contemplado com duas compilações que revisitam a apresentam, num espectro mais amplo, a sua obra agora saída de vez da sombra: CD Box Set e Boxset 1. O mestre nigeriano da eletrônica virou até tema de documentário que explora a faceta do seu relativo ostracismo artístico no passado e o seu atual e voluntário ostracismo pessoal no presente. O artista, encontrado após intensa investigação do manager da Luaka Bop, selo que tem lançado sua obra, não quer dar entrevistas sobre nenhum desses dois momentos da sua vida. Sua trajetória tão genial como obscura rendeu o documentário Fantastic Man.




Voltando ao afrobeat, tratemos de Seun Kuti, que, neste 2014 que se encerra, apresentou-se mais uma vez em solo brasileiro por ocasião da turnê de um novo álbum que, talvez, destoe dos anteriores em alguns aspectos. Porém, não se deixe enganar: é um trabalho, em grande medida, fiel ao estilo consagrado pelo seu pai. A adoção de um gênero como o rap em duas faixas tem o dedo do produtor Robert Glasper – que é, também, pianista de jazz. Para os puristas, talvez o músico de 31 anos brilhe menos em A Long Way to the Beginning. Longe de ter fugido do ritmo que é a razão de ser da sua carreira (este é, sem dúvida, um álbum de afrobeat), Seun deixa claro desta vez que conhece e quer explorar outras searas musicais. Fã declarado da cultura hip hop, ele já parecia indicar, há tempos, impaciência por abraçá-la de algum modo. Mas não o faz ele mesmo. “IMF” tem a participação do rapper M1, da dupla americana Dead Prez. Em “African Smoke”, Seun cede a vez para o MC ganês Blitz The Ambassador, com quem, em troca, colaborou na gravação de “Make You No Forget” de seu álbum Afropolitan Dreams, lançado simultaneamente com Long Way. “Ohun Aiye” é mesmo highlife, só que num compasso mais acelerado que o usual, como é do feitio da Egypt 80. Dispensável dizer que “Kalakuta Boy” é autobiográfica – porém, não que é uma das melhores faixas do álbum. A Kalakuta Republic, a comuna autônoma fundada por Fela Kuti no coração de Lagos, foi o lar de Seun desde o nascimento até poucos anos atrás. A força dos metais da Egypt 80 faz voarem alto “African Airways” e “Higher Consciousness”. A cantora germano-nigeriana Nneka faz intervenções em “Black Woman”, a faixa mais lenta das sete do álbum. Só muita má vontade poderia acusar essa presença pop de “concessão” a algo que pudesse merecer o rótulo de “world music” – como, de fato, tantas vezes já fez o seu irmão mais velho, Femi, ao longo da carreira. Em suma: pode-se dizer que, em 2014, o afrobeat ganhou mais um trabalho à altura das aspirações do seu criador.



Agora, saindo do terreno nigeriano...

Apiafo, da Vaudou Game, para um crítico mais movido pela má vontade do que qualquer outro critério mais proveitoso de avaliação é de um oportunismo autoevidente. A audição rápida do álbum remete automaticamente às coletâneas recentes da Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou, ou, ainda, à magistral African Scream Contest, do selo alemão Analog Africa, lançada em 2008 e que colige algum afrobeat e, principalmente, a (re)apropriação do soulfunky produzido no Togo e no mesmo país de origem da Poly-Rythmo: Benim. (Inclusive, é mais do que esperado o lançamento do prometido segundo volume de African Scream Contest.) Não há mistério mesmo quanto às fontes sonoras dessa banda que segue a tendência da Owiny Sigoma Band, ao reunir músicos africanos e europeus. O que surpreende é que o espectro da Vaudou Game é mais amplo: cabe nele, também, referências explícitas ao ethio jazz e, ainda no registro do soulfunky, à queniana Matata, referência de peso para qualquer interessado pelo resgate do “elo perdido” da produção africana dos 1960/70/80. O que reforçaria as restrições àquilo que apontamos como suposto oportunismo no atual momento de valorização dessa produção. Mas que se ache o que quiser. O fato é que Apiafo é mais que digno de menção. Os cacoetes podem ser por vezes até óbvios (no vídeo de “Pas Contente”, até o uniforme de palco com o qual a Poly-Rythmo se apresentava nos 1960/70 é emulado), mas se trata de um trabalho que reúne 12 faixas que só atestam o talento dos seus criadores em reeditar um som ao qual tiveram acesso graças à atual voga de valorização dos sons afro. Fenômeno – supõe-se – curiosamente extensivo até mesmo aos músicos nativos da nova geração. O crítico mais implacável não poderá deixar de concluir que essa geração intercontinental está mesmo antenada com uma tradição cultural que, agora, pode ser avaliada com um senso de medida mais proporcional ao que merece a sua envergadura.




O desert blues, ou tuareg blues, comparece na nossa lista com três títulos: Akal Warled, de Irmarhan Timbuktu, The Tapsit Years, de Terakaft, e Emmaar, do mais popular Tinariwen. Diversa nas suas semelhanças, a abordagem contemplativa sobre o Saara está no trio de álbuns com mais ênfase ora na marcação rítmica das palmas, ora nos solos de guitarra. Arranjos acústicos também compõem a fórmula – no caso do Tinariwen, é mais frequente que nos seus trabalhos anteriores.




O Zamrock, gênero genuinamente zambiano, é representado por dois relançamentos: Day of Judgment, original de 1976, é o primeiro álbum da Ngozi Family, banda liderada pelo guitarrista e vocalista Paul Ngozi, falecido ano retrasado, e Give Love To Your Children, de Musi-O-Tunia. Rikki Ililonga, talvez o mais célebre representante do Zamrock, é o segundo homem no disco. Ao contrário de Paul Ngozi, Ililonga está vivo e em plena atividade.




Da Etiópia, temos um relançamento de 1977, o quase integralmente instrumental (há um discreto coro feminino numa das faixas) Tche Belew, de Hailu Mergia & The Walias. A Walias Band, aqui no apoio a Hailu Mergia, contava entre seus integrantes com nada menos do que Mulatu Astatke e Mahmoud Ahmed. Mas os serviços vocais do genial Ahmed não foram escalados nas 10 faixas de Tche Belew. Neste álbum está a clássica “Musicawi Silt”, regravada pela norte-americana Antibalas Afrobeat Orchestra quando ainda atendia pelo nome de Daktaris, no seu único álbum, Soul Explosion, de 1998. A série Éthiopiques, em seu nº 29, traz Kassa Tèssèma num apanhado de treze faixas do seu som introspectivo, feito de uma só trama soturna de voz e poucas cordas.



O Congo é representado especialmente na nossa lista pelo álbum novo dos Kasai Allstars. O seu título é um aviso dos mais necessários e eloquentes contra qualquer inclinação a folclorismos e culturalismos com os quais se costuma enquadrar, entre nós, a cultura africana: Beware the Fetish. A rigor, é uma lição de casa ainda não feita por nossa tradição crítica na área musical. Não temos dúvidas de que, quando ela finalmente se iniciar, as kalimbas eletrônicas dos Kasai Allstars soarão gratas. Beware the Fetish é um álbum que se encaixa na categoria de melhores do ano, independente de gênero. Os destaques ficam por conta de “He Who Makes Bush Fires for Others”, sua quinta faixa, cuja linha repetitiva de guitarra hipnotiza, e a última, “The Ploughman (Le Laboureour)”, que dá a impressão de que a caixa de som pode estourar a qualquer momento.


Mas saiba o leitor que há mais, tanto nesta lista, como para além dela. Nela, propriamente, comparece o que mais sobressaiu conforme o meu gosto – o que é, de todo, uma limitação. Espero que ele esteja, até onde alcança, conforme o seu.

Aqui vai a lista, em ordem alfabética:

Aby Ngana Diop – Liital (2014)

African Gems (2014)

Beyond Addis: Contemporary Jazz & Funk Inspired by Ethiopian Sounds from the 70′s (2014)

Dexter Johnson & Le Super Star de Dakar – Live à l’Étoile (2014)

Fela Kuti – Finding Fela: Original Motion Picture Soundtrack (2014)

Francis Bebey – Psychedelic Sanza 1982-1984 (2014)

Hailu Mergia & The Walias – Tche Belew (1977, Reissue 2014)

Imarhan Timbuktu – Akal Warled (2014)

Kasai Allstars – Beware the Fetish (2014)

Kassa Tèssèma – Éthiopiques 29: Mastawesha (2014)

Kassé Mady Diabaté – Kiriké (2014)

Keyboard – Hungry Man (2014)

King Ayisoba – Wicked Leaders (2014)

Les Ambassadeurs du Motel de Bamako – Les Ambassadeurs du Motel de Bamako (2014)

Malawi Mouse Boys - Dirt is Good (2014)

Mamadou Diabaté – Griot Classique (2014)

Musi-O-Tunya – Give Love to Your Children (2014)

Muyei Power – Sierra Leone in 1970s USA (2014)

Ngozi Family – Day of Judgement (1976, Reissue 2014)

Noura Mint Seymali – Tzenni (2014)

Orlando Julius & The Heliocentrics – Jaiyede Afro (2014)

Peter King - Omo Lewa (1976, Reissue 2014)

Riverboat Records: Music from the Source (2014)

Seun Kuti & Fela’s Egypt 80 – A Long Way to the Beginning (2014)

Sidiki Diabaté & Toumani Diabaté – Toumani & Sidiki (2014)

Sierra Leone’s Refugee All Stars – Libation (2014)

Survival - Simmer Down (1977, Reissue 2014)

Terakaft – The Tapsit Years (2014)

The Funk Ark – Man is a Monster (2014)

The Rough Guide to African Blues: Third Edition (2014)

The Rough Guide to the Music of Mali (2014)

The Souljazz Orchestra - Inner Fire (2014)

Tinariwen - Emmaar (2014)

Tony Allen – Film of Life [Deluxe Edition] (2014)

Vaudou Game – Apiafo (2014)

Verckys et l´Orchestre Vévé – Congolese Funk, Afrobeat & Psychedelic Rumba 1969​-​1978 (2014)

William Onyeabor – Boxset 1 (2014)

William Onyeabor – CD Box Set (2014)

Woima Collective – Frou Frou Rokko (2014)



sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

2014: cuidado com o fetiche, por Bernardo Oliveira





















Situação já centenária que se aprofunda a cada renovação tecnológica: o volume da produção extrapola nossa capacidade de armazenar, fruir e compreender o conjunto da expressão artística da época. Mesmo a simples relação com a música em geral passa por uma mutação cuja característica central é a de se modificar constante e ininterruptamente. Uma mutação sem futuro nem destino, mutação no e do presente, que tanto pode abarcar uma curiosidade contínua como sedimentar gostos e opções.

O frenético, o instável, o redundante e o desafiador dão forma a uma profusão de fluxos e tonalidades que afetam os diversos contextos de produção sonora (inclusive manifestações híbridas como as gravações de campo, a arte sonora, p ex.). A invenção se manifesta por uma qualidade perspectiva, uma assinatura, uma mirada singular, o esforço individual/coletivo para produzir  algo diferente, não somente em relação ao panorama — como se esperaria de uma "vanguarda" — mas em relação a si mesmo, ao seu próprio trabalho.

Muitos foram os discos escutados e até mesmo amados em 2014, inclusive alguns que não estão na lista abaixo. Isto porque optei mais uma vez por combinar dois critérios de forma mais ou menos equilibrada: reunindo o conjunto das audições, a cada dia mais incompletas, captar os artistas que se diferenciaram tanto em relação ao seu próprio trabalho, como também em relação ao contexto no qual estão inseridos. Toda lista é subjetiva, produto de experiências pessoais e diz mais do autor do que dos artistas escolhidos.    

Dito isto, selecionei aqueles artistas que foram capazes de surpreender com uma expressão de seu trabalho que eu não conhecia (Juçara Marçal, Cadu Tenório, Yersiniose); reformularam e levaram adiante sua forma de fazer música (Racionais, Kasai Allstars, Untold); desafiaram pela complexidade do conceito (Tyshawn Sorey, Hecker, Schmickler & Rohrhuber, Pisaro); promoveram uma guinada estratégica (Sun Araw, Tricoli, Jaworzyn, Sei Miguel); ou, ainda,  reafirmaram e aprofundaram suas particularidades (Prostitutes, Aphex Twin, D/P/I). Incluí também a coletânea de footwork em homenagem a DJ Rashad editada pela Hyperdub e Metal Shake, quebra-quebra promovido por Peter Brötzmann, Jason Adasiewicz, John Edwards e Steve Noble, preenchido por escalas turcas e dinâmicas imprevistas.  

2014 em 20 discos, 60 faixas, cassetes, mixtapes, relançamentos e alguns shows. Não há uma ordem, mas os sete, oito primeiros discos merecem destaque. Entre as faixas, um fato curiosamente acidental: entre as quinze primeiras, a maioria das indicadas são nacionais. Por motivos óbvios, me guardei de indicar discos e faixas que produzi esse ano, a sua maioria ligados ao Quintavant (evento que ocorre na Audio Rebel, Botafogo/RJ) e ao selo QTV. Alguns shows foram inevitáveis, como o do Coletivo Abaetetuba e o concerto que derivou Bota Fogo, parceria de Paal Nillsen-Love com Eduardo Manso, Arthur Lacerda e Felipe Zenícola lançado pelo QTV (mas gostaria de deixar registrado que admiro muito o primeiro disco do Baby Hilter, Rainha, primeiro disco do DEDO e as canções violíricas de Negro Leo). (B.O.)

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DAS GALÁXIAS

Juçara Marçal – Encarnado (s/g)




















Encarnado é um mapa que descreve rotas aéreas, congruentes e paralelas ao sacrossanto corpo cancional brasileiro. Uma ode à capacidade de resistir aos trancos e barrancos, uma ode ao corpo que perece, ao corpo que existe. Uma cantora que domina a voz, o som, o conceito. Uma consciência para além de tudo o que conhecemos hoje através da palavra "cantora". Uma cantora que mistura sua voz aos ruídos, que produz ruídos, que expõe seu canto em contraste com um trabalho de guitarra dos mais inovadores de que se tem notícia. Não é à toa que Encarnado reúne grandes outsiders da canção das últimas cinco décadas: Tom Zé (a anti-tropicália), Itamar Assumpção (a anti-lira), Siba (o anti-manguebit), o sambista Douglas Germano e toda uma geração da canção paulistana recente: Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Romulo Fróes, Alice Coutinho, Régis Damasceno, Gui Amabis e Thiago França. Um arrasa-quarteirão.


Ouça Encarnado.


Kasai Allstars – Beware the Fetish (Crammed)


O termo "congotronics" é puramente marketeiro, pois as kalimbas são electrificadas. O fetiche que conecta o universo minimalista da música africana com as pistas de dança da velha Europa estão na base do termo. Ele também não dá conta das muitas vertentes sonoras caras à etnia bazombo que se misturam nas doze faixas deste disco. E, no entanto, o Kasai Allstars adverte: "beware the fetish". Contradições à parte, este é um dos discos mais poderosos não só deste ano, como desta década que já se encaminha para sua metade. As variações e nuances que pudemos observar, por exemplo, no segundo disco do Konono (Assume Crash Position), se multiplicam em Beware The Fetish, as cores da percussão, da guitarra, das vozes absolutamente comoventes e vigorosas, os andamentos variados. Outro arrasa-quarteirão.





D/P/I – 08.DD.15/MN.ROY (Leaving Records)




















Formado por Cameron Stallones (Sun Araw), M. Geddes Gengras, Aaron Coyes (do Peaking Lights), MatthewDavid, Butchy Fuego e Alexander Gray, mais conhecido como DJ Purple Image ou simplesmente D/P/I formam oselo coletivo Duppy Gun de Los Angeles. A rapaziada arregaçou as mangas e produziu alguns dos grandes momentos musicais de 2014. A excelente coletânea de faixas gravadas na Jamaica pelo selo Duppy Gun (Multiply: Duppy Guns Productions Vol. I), a mixtape do Genesis Hull (Who Feels It, Knows That) e um dos discos mais estranhos do Sun Araw (Belomancie). Mas o destaque ficou mesmo para dois dos três lançamentos de Gray e seu D/P/I: 08.DD.15 e MN.ROY. Dois trabalhos de samba doido, ritmos inesperados, percussões digitais que descrevem rotas irregulares, tensionamento constante e, sobretudo, irreverência. Algo que muitos imaginam ouvir em Flying Lotus, mas é apenas o despontar de um interesse na multiplicação da percepção rítmica. D/P/I foi mais longe.



D/P/I "SWIN.G" / 08.DD.15 ( Leaving Records ) from /// / on Vimeo.


Untold – Black Light Spiral (Hemlock Recordings)




















"O disco se inicia com ruídos variados distribuídos sobre uma marcação em volume baixo. A textura é interrompida pela eclosão de sirenes de todos os tipos: ambulâncias, alarmes, carros de polícia. Os ruídos não se resumem aos bleeps comuns nesta seara, mas possuem algo de ameaçador, carregados de um aspecto documental, como se fossem extraídos das ruas. O grave se torna proeminente enquanto o clima de desorientação toma conta do ambiente. Estamos situados no âmago do descontrole urbano inerente ao imaginário da eletrônica londrina. Porém, o que geralmente se apresenta como uma vinheta de introdução, em “5 Wheels” dura quase cinco minutos. Não se trata somente de uma indicação de contexto, tal como nas vinhetas desse tipo, mas a tentativa de envolver o ouvinte em uma atmosfera rarefeita e impessoal…"

Ouça "Drop it on the one" e "5 Wheels".


Marcus Schmickler & Julian Rohrhuber – Politiken der Frequenz (Editions Mego, Tochnit Aleph)




















Dois discos de 2014 trabalharam a voz de uma forma maquínica, estrategicamente "desumanizada" e essencialmente crítica: Hecker com Articulação (v. abaixo) e a parceria Schmickler/Rohrhuber com Politiken der Frequenz. Segundo os autores, o trabalho parte da seguinte premissa: “Music and Economics share a fundamental object: number”. Uma teoria crítica, cuidadosamente descrita na capa do disco, sobre a volatilidade dos números, as estratégias aceleração do capital, uma metafísica do lucro, circundam esta obra complexa e misteriosa. Como em muitos trabalhos desta natureza, o título não deve ser desprezado. Ele indica que uma tal política irá operar não em relação ao controle das frequências, mas à valorização de noções como densidade, precisão e situações extremas. O que fascina em Politiken der Frequenz é a forma como a dupla encaminha o problema, através de dinâmicas de relaxamento e tensão, uma certa qualidade dramática que se vale de uma suspensão temporal: enredados em uma trama numérica infinita, entre contas e registros que nos controlam, planificamos nossas vidas sob as ilusão de que andamos para frente.



Tyshawn Sorey – Alloy (Pi Recordings)


















Como escrevi recentemente na comunidade do Matéria no Facebook: "O baterista de jazz Tyshawn Sorey, compositor na linhagem "cósmica" de Webern e Morton Feldman, lançou este ano seu quarto disco, "Alloy". Em pouco mais de uma hora de disco, Sorey inverteu uma premissa histórica relativa ao intercâmbos entre o jazz e a composição moderna: enquanto Ellington e Miles permitiram que o campo melódico/timbrístico dos compositores modernos e contemporâneos penetrassem em suas composições deslizando sobre o improviso, Sorey parte de um composição flutuante, completamente independente da harmonia, para, aos poucos, criar ambientes onde impera o improviso, a desmusicalização das notas e a valorização do som."


Cadu Tenório – Cassettes (Sinewave)




















Cassettes lança um paradoxo comum aos dias de hoje, mas de modo singular: pode ser escutado em CD, no Bandcamp ou arquivos de MP3, sua resolução é essencialmente digital, embora o material bruto tenha sido extraído de uma coleção de cassetes acumulada por quatro anos. Misturada a teclados, violinos, vozes, objetos e ambiências, geram loops irregulares compostos por sonoridades híbridas que oscilam entre o estranhamento e a melancolia, mas também podem ser interpretado como uma experiência de construção conceitual do ritmo. Elaborado a partir de estratégias de adição e subtração e lenta modificação das texturas, Cassettes traz um aspecto diferente da música de um dos mais prolíficos produtores cariocas.  

Baixe o disco aqui.


Prostitutes – Petit Cochon (Spectrum Spools/Editions Mego)





















Diretamente de Cleveland, Ohio, James Donadio chega ao quarto disco do Prostitutes aparando arestas e ressaltando aquilo que seu trabalho tem de mais interessante: a construção sugestiva do ritmo. As estruturas econômicas, focadas sobre texturas repetitivas e timbres lo-fi, sobressaem devido a escassez de elementos harmônicos e melódicos. Sonoridades comuns no universo da música eletrônica de pista (bumbo 4/4, cowbells) se misturam a uma chiadeira em diálogo muito particular com o techno germânico. Um disco soturno, mas repleto de belas batucadas.





Michael Pisaro – Continuum Unbound (Gravity Wave)


























Li recentemente em um site uma definição deste álbum que eu não poderia fazer melhor: "Alguns entusiastas das gravações de campo [field recordings] preferem seus trabalhos sem enfeites; outros preferem incluir alguns ornamentos de forma sutil; e alguns preferem mexer pesadamente no material gravado. O novo projeto de Michael Pisaro oferece as três opções." No primeiro CD, "Kingsnake Grey", temos a paisagem sonora noturna do Congaree National Park, captada por Pisaro e Greg Stuart. "Congaree Nomads" sintetiza em uma hora e doze minutos, 24h seguidas de gravação no mesmo local, adicionado por delicados ornamentos e intervenções de marimba, xilofone e outros instrumentos. Em "Anabasis", a terceira modalidade entra em jogo com a contribuição de Patrick Farmer, Joe Panzner e Toshiya Tsunoda. Trabalho fascinante acompanhado de um projeto gráfico e quatro livros que tematizam toda a experiência, de autoria do artista plástico Yuko Zama.


Racionais MCs –  Cores e Valores (s/g)





















Em seus vinte e cinco anos de carreira, os Racionais MCs dobraram/derrubaram críticos e adversários um a um (eu fui um deles!). Ao mesmo tempo, criaram tantos outros. Não tem como ser diferente, eles anunciam uma guerra, é impossível pensa-los sem a dimensão da nossa grande guerra social, das nossas contradições e conflitos. Se você quer conciliação e uma visão harmônica de país, desista dos Racionais. Mas e a arte? Após "Mulher Elétrica" e "Mil faces de um homem leal", os Racionais mostram que não estão somente em busca de espalhar sua mensagem, mas sobretudo renovar a potência de sua arte. Diálogos com o trap e as vertentes mais recentes do rap, produção econômica e sombria e uma abertura de disco que pode ser considerada como uma das mais impressionantes dos últimos tempos. Alguns acharam que eram vinhetas, outros que era um teaser. Mas o que se revelou foi uma sequência de dez pequenas composições que tomam dezesseis minutos do discos. Os MCs continuam grandes poetas, recusando o papel de arautos de uma nova era, recusando qualquer messianismo — embora seja difícil pensar o Brasil dos últimos 30 anos sem a presença do grupo. Discaço.

Hecker – Articulação (Editions Mego)




















Não topo com o conservadorismo travestido de postura agressiva anunciado por Nick Land através de seu conceito "dark enlightnment"; nem com o cinismo poseur advogado pelos "aceleracionistas"; muito menos com todas essa conversa mole de "realismo especulativo", recauchutagem acadêmica de temas que mais indicam o beco sem saída da filosofia continental do que uma problematização potente do presente. Ainda assim, a música de Hecker soa como um dispositivo crítico relacionado à produção do som e do sentido, correndo por fora do mal estar generalizado que parece tomar conta do pedaço. Como em Chimerization (2012), Articulação é produto da colaboração de Hecker com o filósofo e escritor iraniano Reza Negarestani, associado ao "realismo especulativo", que desenvolveu o conceito de "quimera" — "reunião científica ou mitológica de partes díspares". Deixemos de lado o quanto for possível esta situação teórica para acessar o que Articulação tem de melhor. Em "Hinge*", a artista Joan La Barbara recita dois textos de Negarestani em paralelos, cada um representando os domínios da natureza (canal esquerdo) e da cultura (canal direito). Articulando esses dois grandes "obeliscos", Hecker se propõe a produzir uma síntese de elementos sonoros e textuais, que retornará na terceira faixa ("Hinge**"), completamente alterado por efeitos. No meio das duas articulações, Hecker posiciona "Modulator (…meaningless, affectless, out of nothing…)", uma faixa na qual a "síntese" não passa pela palavra ou pelo texto, apresentando-se de forma mais obscura, mas não menos fascinante.

Ouça "Hinge*".


Sun Araw – Belomancie (Sun Ark Records)





















A viagem para a Jamaica (para a gravação do disco com The Congos) e a formação do selo Duppy Gun reforçaram a visão de que Cameron Stallones buscava fincar uma bandeira no terreno do dub psicodélico: inspiração ambient, andamentos lentos e esfumaçados, bases repetitivas, gravão bem marcado, guitarras saturadas de efeitos, vocais com delay e percussões aleatórias. Mas Belomancie mostra que Stallones tem mais lenha para queimar, apostando em direções, se não divergentes, no mínimo destoantes da densidade inclusiva dos discos do Sun Araw. Neste álbum, composto, tocado e gravado somente pelo próprio artista, o clima psicodélico é substituído pelo delírio onírico: pontos isolados, silêncios por todo o disco, irregularidade. Um esqueleto coberto de penduricalhos aleatórios e um compositor/produtor capaz de fazê-lo andar. 

Ouça Belomancie.


Millie & Andrea – Drop The Vowels (Modern Love)




















Millie é Miles Whittaker (Demdike Stare) e Andrea é Andy Stott. Juntos tocam desde 2008 a dupla Millie & Andrea, sempre atentando para a alteração de padrões estabelecidos do techno e do UK garage. Drop the Vowels, primeiro disco da dupla, desenvolve uma exploração inteligente de timbres e sonoridades aplicadas a uma grade rítmica mais próxima do drum and bass, dos breaks e big beats. Em "GIFF RIFF", escutamos primeiramente um sampler de música árabe (ou egípcia), seguindo-se por sons de máquinas e kalimbas digitais. A sequência varia entre o drum and bass mais direto ("Corrosive", "Drop the Vowels"), variações do UK Garage ("Stay Ugly") e momentos mais abstratos ("Back Down","Quay"). Situado propositalmente entre tradição e renovação, Drop The Vowels trabalha a partir de uma síntese particular de aspectos da música eletrônica britânica dos anos 90.   
Aphex Twin – Syro (Warp)




















A volta de Richard D. James ao cenário da música atual foi marcado primeiramente pela aparição de sinais misteriosos, seguido de um estardalhaço entediante: a reedição de Caustic Window LP, stencils por toda parte, um zepelim cruzando os céus de Londres, vazamentos fake. A ação orquestrada contrastou com a impressão ambígua de que o trabalho não teria ido tão longe quanto o esperado. Mas talvez esta seja a maior força de Syro: o modo como James se mostra senhor do universo diversificado que ele próprio criou nos anos 90. Modulações de seus trabalhos ambient, batidas frenéticas, vozes fantasmagóricas e um otimismo bizarro percorrem as doze faixas de Syro.  
Yersiniose – 1911 (Seminal Records)




















Um dos grandes lançamentos da Seminal Records, selo dirigido pelo chapa J-p Caron, 1911 foi produzido pelo paulistano Mario Brandalise. Quatro faixas que sintetizam de forma consistente os timbres pesados associados ao power electronics e a espacialização de nuvens cacofônicas, características de algumas manifestações da música de ruídos. Uma construção conceitual arrojada, mas ao mesmo tempo extremamente fluida e cativante.

[Ao lado de Cassettes de Cadu Tenório e outros lançamentos como Rainha, Heavy Metal Maniac, o primeiro disco solo de J-p Caron (Sinewave), os trabalhos do God Pussy, 1911 indica temos hoje na seara das abstrações sonoras e música extrema, uma produção consistente e diferenciada do restante do mundo. Delírio? Pelo jeito, os norte-americanos já sacaram. Convém ficar de olho].




Valerio Tricoli – Miseri Lares (PAN)




















A julgar por uma apresentação que assisti no ano passado, imaginei que esse segundo álbum de Valerio Tricoli pudesse trazer um improvisador ainda mais radical do que aquele que gravou Forma II ao lado de Thomas Ankersmit (também editado pelo selo PAN). Gravado entre 2011 e 2013, Miseri Lares traz um artista mais preocupado em elaborar um panorama complexo, descrevendo rotas acidentadas e ricas em materiais sonoros. Trabalhando de forma indistinta com procedimentos variados, desde field recordings até manipulação de fita, Tricoli produz modulações incessantes na forma da composição, valorizando as dinâmicas de volume e os detalhes de timbres.

Ouça "Miseri Lares".


Peter Brötzmann, Jason Adasiewicz, John Edwards, Steve Noble – Mental Shake (Otoroku)




















Um dos discos de improviso mais fortes desse ano conta com Peter Brötzmann empunhando o Tarogato, uma espécie de flauta turca, Noble e Edwards comandando as dinâmicas de seus respectivos instrumentos e, ao fundo, Jason Adasiewicz construindo um tapete de harmonias delicadas, fugidias.




Stefan Jaworzyn – Drained of Connotation (Blackest Ever Black)





















Um disco brutalmente repetitivo, desprovido de sentimentalismos melódicos. A revolta das máquinas através da manipulação de timbres diáfanos e estruturas rudimentares. Os títulos são amistosos: "Psychoanalytically Speaking, You're Fucked", "Sinister Eroticism In Oslo", "Pillars Of Excrement". Drained of  Connotation é uma coleção de faixas produzidas em 1982, um dos três discos lançados esse ano que quebram um hiato de 17 anos e inauguram a carreira solo do veterano Stefan Jaworzyn, ex-membro do Whitehouse e do Skullflower.

Ouça "Sinister Eroticism in Oslo".


Sei Miguel – Salvation Modes (Clean Feed)




















Sei Miguel é um trumpetista francês que já morou no Brasil e desde a década de 80 reside em Portugal. Na ativa desde a década de 80, sua música sempre esteve de alguma forma vinculada ao improviso e às vertentes experimentais do jazz contemporâneo. Em Salvation Modes, Miguel dá início à divulgação de composições que vem armazenando na gaveta ao longo de 30 anos. Uma sequência de paisagens e panoramas climáticos, trilha sonora para filme noir entrecortada pelas intervenções dos treze músicos — com destaque para o trombone de Fala Mariam, a guitarra de Pedro Gomes e as intervenções eletrônicas de Rafael Toral. Sugestão: ouça no fone.  


Vladislav Delay – Visa (Ripatti)


Pudemos comprovar a versatilidade de Sasu Ripatti no Festival Novas Frequências deste ano. Ele domina tanto a pista de dança quanto o palco, mostrando que a importância do seu trabalho hoje não se restringe somente à música eletrônica, mas a convergência indiscriminada de fontes sonoras. Desenvolvendo diversos projetos ao mesmo tempo, Ripatti demonstra um espírito aguçado em busca de sons e estruturas sonoras. Sob a alcunha Vladislav Delay, faz uma interpretação absolutamente particular da ambient music em Visa, disco que nasceu de uma recusa de visto para entrar nos Estados Unidos.




Vários artistas – Next Life (Hyperdub)




















DJ Rashad celebrado por seus parceiros e amigos: Spinn & Taso, Taye, Traxman, RP Boo, Manny, entre outros. Uma homenagem à altura deste que foi um dos grandes inovadores de um dos mais inovadores movimentos da bass music mundial.



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FAIXAS

MC Bin Laden e todo o crew que o acompanha. Ramificações criativas do funkcarioca se espraiando pelo território, modulando. Gente mexendo com estrutura, conceito, não é mimetismo vazio. Algumas produções dessa turma não tem batida, só o gravão sustentando. Em referência à experiência do popular "lóló", "Lança de Coco" tem alguns segundos de uma frequência agudíssima, impensável para o funk de alguns anos atrás. É preciso liberdade para mexer profundamente com um gênero tão popular. A burrice roqueira característica da melomania média brazuca nunca foi capaz de produzir a partir desse espírito renovador e irreverente.



Corpo-máquina, corpo-som:



Faixas indispensáveis:

"Devora o Lobo" – Alessandra Leão
"Chorus" – Holly Herndon


"Grey Over Blue" – Actress (lançada em 2013, mas incluída em um disco de 2014)



Outras faixas indispensáveis:

"Electric Fish" – Cadu Tenório + Marcio Bulk (com César Lacerda)
"Drop It On The One" – Untold
"Bololo Haha" – MC Bin Laden
"Picada Fatal" – MC Livinho
"Make Her Say (Beat It Up)" – Estelle
"200 Press" – James Blake
"Velho Amarelo" – Juçara Marçal
"Last Mistress" – Body/Head (Jake Meginsky remix)
"Faith OG X" – Copeland
"Irmandade de São Benedito" – Projeto Mujique



"Fortress (The Hague, 2005)" – A Made Up Sound
"Momentum I (para Giacinto Scelsi II)" – J-P Caron
"Emtee" – S Olbricht
"No Surrender" – Andy Stott
"Ruckus In B Minor" – Wu Tang Clan
"Behind the Loops" – Ena


"Boxoff" – Machinedrum
"Eat My Fuck" – I.B.M.
"Primate 2" – Kevin Drumm
"Exu" – Juçara Marçal
"Oneiric Contour" – Lee Gamble 
"False Entities" – Sendai 
"Colony Collapse" (with Nova) – Filastine
"Anger Alert" – Kevin Drumm & Jason Lescalleet
"Past Majesty" – Demdike Stare
"Nan Nife" – James Ruskin
"Forerunner Foray" – Shabazz Palaces


"Two Weeks" – FKA twigs
"White Flower with Silvery Eye" – Shackleton
"Gland Collector" – Stefan Jaworzyn
"Retrato na Praça da Sé" – Tom Zé
"Hidden Lake Club" – Fischerle
"Chaghaybou" – Tinariwen
"Léthé" – Kaumwald
"Everything" (Villalobos & Loderbauer: Vilod high blood pressure mix) – Neneh Cherry
"Somethin ‘Bout the Things You Do" – DJ Rashad ft. Gant-man
"Scarface" – Freddie Gibbs & Madlib
"Jhones" – DEDO
"Ndikagona (When I Sleep)" – Malawi Mouse Boys
"The Only Scarf" – Prefuse73 & Machinedrum
"Lurch" – Perc
"Periscope Blues" – Ron Morelli
"Static Things" – Fennesz
"Reddin Off" –Afrikan Sciences
"The Holy Cave" – Clap! Clap!





RELANÇAMENTOS




Aby Ngana Diop – Liital
Mestre Cupijó e Banda – Siriá
Hailu Mergia and The Walias – Tche Belew
Morton Subotnick – Silver Apples of the Moon
Caustic Window LP
Half Japanese  – Volume 1: 1981-1985
Nick Drake – A day gone by
Verckys et l'Orchestre Vévé – Congolese Funk, Afrobeat and Psychedelic Rumba 1969-1978


COLETÂNEAS



Francis Bebey – Psychedelic Sanza 1982-1984
Les Amabassadeur du Motel Bamako
Music from the Mountain Provinces
Anastenaria – Music Of The Fire Walkers
Hyperdub 10.1,10.2, 10.4
Let No One Judge You — Early Recordings From Iran, 1906-1933
Belgrade Is The World
David Toop – Mondo Black Chamber


INÉDITOS ANTIGOS



John Coltrane – Offering: Live At Tempel University
Αναστενάρια – Music Of The Fire Walkers
Miles Davis – Miles at the Fillmore - Miles Davis 1970: The Bootleg Series, Vol. 3'
Gal Costa e Gilberto Gil – Live in London 71' 
Mars – Rehearsal Tapes and Alt-Takes NYC 1976-1978
Angus MacLise – New York Electronic, 1965

CASSETES



HATE – Bad History
Vatican Shadow – Death Is Unity With God

MIXTAPE



SHOWS


DJ Rashad. Foto: Eduardo Magalhães. 






















12/04 – DJ Rashad – Wobble (Usina, RJ)
25/04 – Paal Nilssen-Love + Felipe Zenícola + Eduardo Manso + Arthur Lacerda  – Quintavant (Audio Rebel, RJ)
22/05 – Untold – Wobble (Fosfobox, RJ)
14/06 – Juçara Marçal – Quintavant (Audio Rebel, RJ)
26/07 – Metá Metá, Passo Torto, Juçara Marçal, Rodrigo Campos, Romulo Fróes, Sambanzo (Ibirapuera, SP)
30/08 – Bassekou Kouyaté – MIMO (Ouro Preto, MG)
19/09 – Arto Lindsay + Paal Nilssen-Love + Kiko Dinucci + Thiago França – Quintavant (Audio Rebel, RJ)
01/11 – Coletivo Abaetetuba – Quintavant (Audio Rebel, RJ)
04/12 – Aki Onda – Novas Frequências (Oi Futuro, RJ)
09/12 – Mark Fell + Keith Fullerton Whitman – Novas Frequências (Audio Rebel, RJ)
12/12 – Bill Orcutt – Novas Frequências (Oi Futuro, RJ)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Cores, formas e ideias: entrevista com Maurício Takara























Maurício Takara é, desde a formação do Hurtmold no final dos anos 90, um dos mais proeminentes e ecléticos músicos da cena brasileira contemporânea. Sua produção musical, sempre muito particular, nunca deixa de transparecer uma atenção às inovações e criações sonoras em diversos nichos da produção nacional e internacional. Além dos vários grupos (Hurtmold, Coletivo Instituto, São Paulo Underground, Puro Osso) e parcerias (Baobá Stereo Club, Rodrigo Campos, Naná Vasconcelos, Elma etc) das quais participou nos últimos 16 anos como multi-instrumentista, Takara também mantém uma consistente carreira solo desde 2003, na qual explora recursos eletrônicos como sintetizadores, pedais e bateria eletrônica.

Tendo passeado por sonoridades que vão do post rock ao jazz e do trip hop à música clássica, a música de Maurício é toda ouvidos. Sua sensibilidade para a combinação e reinvenção de estilos e proposições estéticas reflete uma posição extremamente aberta e, ao mesmo tempo, direta e precisa quanto à relação com suas influências, os sons que o cercam e sua própria produção musical. Não somente na questão musical, mas também nos recursos técnicos, a permeabilidade de suas criações inevitavelmente o coloca na ponta das experimentações contemporâneas, sua sinceridade e sua paixão o tornam atemporal e atual, incomum e familiar.

Em 2014, além de integrar o Baobá Stereo Club na exploração dos tons graves de suas composições jazzísticas na bateria e no trompete e lançar o Lp Puro Osso como solista, ambos pelo selo Desmonta, o músico também deu início a mais um projeto, o mundotigre. Já contando com dois lançamentos — um em março, outro em outubro — o projeto evidencia uma exploração de texturas harmônicas, loops e batidas por um viés mais minimalista e ambient. Falei por email com o Maurício sobre o mundotigre, suas particularidades e, em especial, sobre as ideias e criações que culminaram em mundotigre ao vivo no Rio, lançado em 28 de Outubro. (G.M.)

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O projeto Mundo Tigre apresenta uma sonoridade bem singular, talvez se aproximando mais do Conta (2007) que de qualquer outro trabalho seu. Como você vê o projeto em relação à sua carreira? Existe alguma ideia musical específica que você quer expressar?
Pra mim a grande diferença no mundotigre é a formação mesmo. É um projeto mais baseado no processo criativo de música eletrônica, então mesmo que às vezes (raramente) eu utilize algum instrumento acústico, esse é usado de forma inserida nas técnicas mais eletrônicas. 

Você poderia falar um pouco sobre o processo de criação dos loops, samples e batidas? Quanto do material você cria do zero e quanto é apropriação?
Eu já usei muito mais samples. Hoje em dia eu tenho usado mais timbres gerados por mim (através de síntese) ou sons de “pré-set” dos equipamentos, processados até perderem suas características originais.  

Quanto ao recém lançado mundotrigre ao vivo no rio, como foi a junção dessas ideias musicais? Foi tudo improvisado ou você já tinha arranjos e combinações pensadas?
Quando eu vou compor para o mundotigre me baseio muito num set de equipamento que eu decido usar. É quase uma forma de se limitar e de extrair o máximo das características de cada máquina (o que acaba sendo bem diferente de quem trabalha com o computador). Penso muito como um compositor que compõe para formações de grupos específicos. Cada formação acaba tendo uma sonoridade diferente e isso muda muito o jeito de compor.  Esse set ao vivo no Rio é totalmente baseado numa groovebox da Roland que chama MC-808. Uso ela muito como se fosse uma mesa de som e toco de forma parecida com a técnica de produtores de dub, onde eu tenho uma série de faixas pré-programadas que vou combinando de forma um pouco improvisada, cada hora de um jeito. Por exemplo, ouvindo depois, percebi que esse set no Rio foi um onde eu explorei bem mais as texturas harmônicas e as camadas de timbres ao invés das batidas e percussões. 

Assim como em “Música Resiliente para Piano e Vibrafone”, é bem clara a influência da cena minimalista nova iorquina dos anos 60 e 70 no mundotigre, principalmente no “Ao Vivo no Rio”. Você considera o disco um trabalho minimalista? Quais são as possibilidades que mais te chamam atenção nessa abordagem de composição?
Não o considero um trabalho minimalista mas tem sim bastante influência dessa música. Eu gosto da ideia de compor música mais baseado em padrões simples e mântricos que quando combinados geram (às vezes) cores e texturas complexas. Também o fato de ser uma música que permite uma forma não tão ligada à tradição de canção e sim a algo que acontece no tempo sem se restringir a ele necessariamente. A sensação de que o que é ouvido não é a música inteira e acabada (com começo meio e fim) mas sim algo que passou por você mas já acontecia antes e continua acontecendo no espaço...  

Um reflexo grande dessa influência pode ser percebida no “Ao Vivo no Rio” quando, se não me engano, você se utiliza de samples de “Música para 18 Músicos”, do Steve Reich. Qual é a sua visão no que concerne a apropriação, autoria e criação?
Não é um sample mesmo, mas uma referência apenas.  Não penso muito em música como algo apropriável. Ela existe e se propaga independentemente de quem a fez ou de quem tenta controlá-la.


Quando você junta os vários fragmentos rítmicos e harmônicos para construir uma faixa, você desenvolve ou busca aspectos não musicais como imagens, ideias ou conceitos
Acho que sim no sentido de que eu não me baseio em nenhuma regra de nenhuma tradição musical. Eu gosto da sensação de me sentir transformado e mexido por sons da mesma forma de que por cores, formas e ideias. Mas normalmente não estou tentando expressar nenhuma ideia específica ou representar nenhuma figura através da música. Só tento permitir que os sons existam e sejam felizes entre si. 

Fora os compositores minimalistas, que nomes você pode citar como influências de grande importância para mundotigre como projeto e, em especial, para o “Ao Vivo no Rio”? Quais são suas maiores influências, artísticas ou não, fora da música?
Me sinto especialmente inspirado por artistas que não diferenciam muito seus processos por isso criam coisas variadas independentes do meio.  Isso inclui nomes como Rob Mazurek, Carlos Issa, Brice Marden, Hisham Baroocha, Jonathann Gall, Amilcar de Castro, Mark Gonzales, Jason Lee, Bobby Fischer... Gosto muito de andar de skate e fazer tai chi chuan também.  

Quais são seus próximos lançamentos? E você teria como falar um pouco a respeito de ideias musicais ou projetos para o futuro?
Tenho mais 2 discos do mundotigre prontos que devem sair logo. Um deles em janeiro em fita cassete. Tenho feito bastantes shows sozinho tocando instrumentos diversos e tenho gostado muito, vou fazer uma turnê assim na Argentina em janeiro e pretendo continuar desenvolvendo esse set. No mais, gosto mesmo de ficar buscando novos sons e ideias mesmo que não tenham uma finalidade certa.